1. Como se formam os gêmeos iguais, univitelinos, e os gêmeos diferentes ou dizigóticos?
Os gêmeos não-idênticos são formados pela fecundação de dois óvulos por dois espermatozóides. Na verdade, podem ou não ter o mesmo sexo e equivalem a duas gestações que se desenvolvem ao mesmo tempo e no mesmo ambiente.
Já os univitelinos ou idênticos formam-se quando um único óvulo, fecundado por um só espermatozóide, sofre posteriormente uma divisão. Logo, gêmeos idênticos têm necessariamente mesma carga genética e mesmo sexo.

2. Faz diferença a gestação de gêmeos idênticos ou não-idênticos?
 O que faz diferença nas gestações gemelares é o número de placentas. Quando são duas placentas, uma para cada feto, a gestação é menos complicada, mas será mais complicada se houver apenas uma placenta para os dois fetos.
Gêmeos não-idênticos obrigatoriamente têm duas placentas. Entretanto, somente de 10% a 15% dos gêmeos idênticos têm placentas separadas.

3. O normal é a mulher liberar apenas um óvulo que será fecundado por um único espermatozóide e dará origem a um só feto. Por que algumas mulheres eliminam dois óvulos ao mesmo tempo ou um óvulo que depois de fecundado dá origem a dois embriões?
 Existem várias teorias para explicar o caso dos gêmeos não idênticos. Uma delas defende que a elevação de certos hormônios estimula a liberação dos óvulos e por isso as gestações gemelares são mais frequentes entre os 30 e 37 anos da mulher. Outra levanta a possibilidade de que essa elevação hormonal esteja associada a alguns tipos de alimentos. Já se constatou também que a frequência dessas gestações é pequena entre os orientais e um pouco menor entre os brancos do que entre os negros.
Quanto à gestação de gêmeos idênticos provenientes de um único óvulo, as teorias são muitas, mas nada de muito concreto foi encontrado para explicar por que isso acontece. Parece não haver dúvida, porém, de que não há componente genético envolvido, ao contrário do que acontece com os gêmeos não idênticos.

4. Quer dizer que certas famílias podem concentrar número maior de gêmeos não-idênticos?
 Quando existem gêmeos não idênticos numa família, a chance de acontecer um novo caso é dez vezes maior do que em famílias sem história de gestações gemelares.
5. Pesa mais a família do lado paterno ou materno?
 Para gêmeos não idênticos, parece que a influência maior é exercida pelo lado materno; já para os idênticos, não se observa a mesma relação.

6. Drauzio – A partir de quantas semanas o ultrassom detecta a gestação gemelar?
 Já a partir de cinco ou seis semanas, o ultrassom consegue detectar gêmeos não idênticos, porque existem duas bolsas e duas placentas separadas. Gêmeos idênticos, com uma placenta só, são diagnosticados mais tarde, com seis ou sete semanas. Mesmo assim, é arriscado cometer um erro de diagnóstico: imagina-se que se trata de uma gestação única e depois se descobre que são dois bebês.

7. Qual a importância de existirem uma ou duas placentas?
 Nas gestações de gêmeos não idênticos existem sempre duas placentas. Portanto, não seria exagero dizer tratar-se de duas gestações independentes, embora simultâneas e ocorrendo no mesmo ambiente e que, por isso, os bebês podem apresentar diferença de peso, altura, sexo, etc.
Quanto aos idênticos, em 90% dos casos, há só uma placenta, o que pode acarretar maiores complicações, pois, além de dividirem os nutrientes necessários para seu desenvolvimento, a circulação sanguínea de ambos se comunica através dessa placenta. Nos 10% restantes, em que cada um tem a sua placenta, a probabilidade de ocorrer um problema é sempre menor.

 8. Nessa divisão, um dos gêmeos univitelinos pode levar vantagem sobre o outro?
Pode e isso explica que, em determinada fase da gestação, um seja muito menor do que o outro. Mas a diferença não fica só no peso. Se acontecer alguma complicação e um deles for a óbito, o outro poderá sofrer consequências uma vez que a circulação dos dois passa pela mesma placenta, na maioria dos casos.

9. O que acontece quando no comecinho da gestação, ainda no primeiro trimestre, morre um dos embriões e o outro fica vivo?
No caso de uma única placenta, na maioria das vezes, o embrião que morreu vai diminuindo de tamanho, é reabsorvido e, a partir de determinado momento, não será mais identificado. Quando isso acontece em fase precoce, não repercute de forma alguma na gestação do sobrevivente. Se as placentas são independentes, então, o que ocorre com um não interfere no desenvolvimento do outro.

10. E se o óbito ocorrer quando os fetos forem maiores?
Tudo depende do número de placentas. Se cada um tem a sua, a gestação continuará normalmente para o feto que permanecer vivo.

11. Existe risco de o feto que morreu ser eliminado através do colo uterino?
 Existe o risco, mas não é grande. Na maioria das vezes, a gestação evolui bem, sem risco de abortamento nem de parto prematuro ou mais complicado. Dependendo da fase da gestação em que ocorreu o óbito, ele pode nem ser percebido na hora do parto.

12. A gestação gemelar pode apresentar mais problemas do que a gestação de um só bebê. Que tipo de medidas devem adotar o obstetra que acompanha o caso e a mãe que está gestando dois bebês?
 Nesse sentido, cuidados, preocupações e alegrias são proporcionais ao número de bebês. Como consequência, os cuidados com a gestante que vai ter gêmeos têm de ser maiores, porque as modificações em seu organismo são diferentes do que as que ocorrem numa gestação única.
Na gestação gemelar, o volume do útero e do sangue aumenta quase o dobro e, em termos de nutrição, as necessidades serão muito maiores. Além disso, a grávida de gêmeos corre maior risco de apresentar diabetes, hipertensão,  e parto prematuro. Consequentemente, as visitas ao obstetra assim como os exames ultrassonográficos precisam ser mais frequentes.
No que se refere ao feto, como já dissemos, as complicações estão mais relacionadas ao número de placentas. Gêmeos idênticos com uma única placenta são mais vulneráveis do que os que possuem placentas independentes e do que os não idênticos.

13. Há maior risco de malformação congênita em gravidez gemelar?
 Não é que isoladamente cada feto corra maior risco. A gestação em si é que pode apresentar algum tipo de problema, porque na verdade são dois fetos que se desenvolvem no mesmo momento.

14. Isso indica avaliações mais frequentes das condições fetais?
 Tudo o que se faz na gestação única, faz-se também na gestação de gêmeos. O exame de translucência nucal, por exemplo, é importante tanto nas únicas quanto nas múltiplas. A grávida de gêmeos, porém, faz mais ultrassons para averiguar o crescimento dos fetos, a quantidade de líquido e as condições em que se encontra cada um deles, porque do bem-estar de um pode depender o bem-estar do outro.

 15. Qual a rotina dos exames de ultrassom na gravidez de gêmeos?
 Sempre se costuma pedir um ultrassom por volta da sétima ou oitava semana para firmar o diagnóstico de gêmeos. Depois, na 12ª semana, é feito o de translucência nucal, que revela também quantas placentas existem.
A seguir, os exames de ultrassom são repetidos mais ou menos uma vez por mês para quem tem duas placentas e, eventualmente, num intervalo menor quando a placenta é só uma.

16. Quais são as complicações que podem ocorrer na hora do parto?
 A maioria dos partos de gestações múltiplas é por via alta, isto é, por cesariana. No caso de gêmeos, o parto normal é possível dependendo da posição em que estejam os bebês. O ideal é que os dois estejam de cabeça para baixo, o que acontece em 40% dos casos. Nos outros 40%, o número 1 está de cabeça para baixo e o número 2, numa posição diferente. Isso dificulta a realização do parto normal, mas mesmo assim ele pode ser feito, porque existem algumas manobras que facilitam o nascimento do segundo bebê. Quando nenhum dos dois está com a cabeça para baixo, a cesária é o procedimento indicado. Em se tratando de trigêmeos ou quadrigêmeos, o indicado é sempre o parto por via alta.

17. No caso de gêmeos, qual tem o parto mais difícil?
 Na maioria das vezes, a complicação é maior no segundo gemelar. Às vezes, ele não está em posição favorável ou as contrações não são suficientes para expulsá-lo.

18. Quando os gêmeos univitelinos começam a manifestar diferença de personalidades?
 Já no intraútero, os gêmeos apresentam diferença de resposta ao meio ambiente ou a qualquer tipo de agressão, tanto que um problema pode manifestar-se apenas num deles. Diria também que nos exames de ultrassom é possível observar, por exemplo, que um é mais agitado e o outro, mais calmo.
Essas diferenças acentuam-se no pós-natal. É sempre bom lembrar que mesmo os gêmeos idênticos são pessoas diferentes, com personalidades diferentes apesar de geneticamente iguais. Daí, a importância de os pais individualizarem a forma de tratar, vestir e educar essas crianças.

19. É interessante notar que, muitas vezes, gêmeos idênticos vão perdendo a semelhança com a passagem dos anos.
 Isso acontece porque cada um desenvolveu suas próprias características. Há, porém, outros que se parecem muito ao longo da vida, e até colaboram para perpetuar essa semelhança. Há dois gêmeos americanos, um é médico e o outro é físico, que cuidam de uma fundação nos Estados Unidos e fazem questão de manter a semelhança física. Na verdade, entre eles existe algo que vai além da convivência e, embora o lado genético tenha influência muito forte nessa ligação, eles se esforçam por mantê-la intensa a ponto de o físico, por exemplo, participar dos congressos médicos sobre gêmeos. Obviamente, há gêmeos que querem diferenciar-se e essa é a conduta mais habitual.

20. A tarefa de amamentar uma criança já não é muito fácil. Como as mães dão conta de amamentar dois ou mais bebês que podem chorar de fome ao mesmo tempo?
 A mãe pode amamentar um bebê enquanto o outro dorme, ou pode amamentar os dois concomitantemente, colocando um em cada mama. Se desse modo consegue diminuir as horas que passa dando de mamar e estabelecer um horário para a amamentação, por outro tem de repartir a atenção entre as duas crianças enquanto as alimenta.